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A Evolução da Psicologia e a Prática das Virtudes

A Evolução da Psicologia e a Prática das Virtudes

Neste artigo, vamos refletir sobre as bases da Psicologia das Virtudes correlacionando-a com a evolução da Psicologia.
Para compreender a Psicologia das Virtudes e o seu poder transformador, somos convidados a refletir sobre a evolução da Psicologia e a sua relação com a prática das virtudes.
A Psicologia tem se desenvolvido muito nos últimos 120 anos.
No final dos anos 1950 e início da década de 1960, desenvolveu-se uma nova força na Psicologia denominada Psicologia Humanista, cujo objetivo principal era o de estudar a experiência humana e tudo o que há de mais essencial à vida e ao bem-estar das pessoas.
Foi o primeiro passo para o início das reflexões sobre a utilização das virtudes como instrumento de transformação do ser humano.
Essa Terceira Força seguiu-se à Segunda Força, denominada Psicanálise e à Primeira Força, o Behaviorismo.
O Behaviorismo trabalha essencialmente com o comportamento, a partir de estudos com animais, por meio de dados objetivos centrados nos estímulos e reações, e a partir desses estudos, aborda-se também o comportamento humano.
A Psicanálise é um método terapêutico criado por Sigmund Freud, empregado em casos de neurose e psicose, que consiste fundamentalmente na interpretação, por um psicanalista, dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de um indivíduo.
Em nenhuma das duas forças iniciais se abordava as questões ligadas às virtudes que proporciona saúde ao ser humano.
Somente com o advento da Psicologia Humanista é que se começou a estudar o ser humano saudável e, por extensão, aquilo que gera essa saúde, que são os valores humanos.
A partir da Psicologia Humanista, desenvolveu-se no final dos anos 1960 uma nova força, denominada Psicologia Transpessoal, lançada oficialmente em 1968 pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow, que, na introdução à segunda edição de seu livro In­trodução à psicologia do ser, assim se expressa:
Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou a Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmos do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade e da individuação. […]. Necessitamos de algo “maior do que somos”.[1]
A Psicologia Transpessoal está centrada no desenvolvimento da saúde do ser humano, abordando-o dentro de uma visão ampla, holística e cósmica, em que o homem é apreciado em seus aspectos biológicos, psíquicos, sociais e espirituais.
Essa força possui várias correntes de pensamento.
Desenvolvemos durante mais de duas décadas no Instituto Brasileiro de Plenitude Humana as bases de uma nova corrente de orientação transpessoal, a Psicologia Consciencial, que tem como instrumento de utilização terapêutica a psicologia das virtudes.
O transpessoal é aquilo que busca transcender o pessoal, isto é, dentro de uma abordagem psicológica, ir além do ego, ao encontro da essência do ser humano.
Vários ramos da ciência, como a Psicologia Transpessoal, têm caminhado em direção a uma espiritualização, sempre tendo como enfoque as questões científicas e não religiosas.
Para que possamos compreender esse quadro vigente e ter argumentos para modificá-lo, façamos uma diferenciação baseada no paradigma transpessoal-consciencial, entre espiritualidade, religiosidade e religião e o papel da ciência frente a esses conceitos.
Essa diferenciação não está presente nos dicionários, ou está presente apenas parcialmente, pois os verbetes estão descritos segundo o paradigma materialista, ou conforme a visão teológico-dogmática, vigentes em nossa cultura.
Espiritualidade: segundo o paradigma transpessoal, somos seres espirituais e temos transitoriamente um corpo físico.
Somos, portanto, muito mais que os nossos corpos físicos.
A espiritualidade, portanto, é algo inerente ao ser humano.
Todos nós buscamos a nossa própria espiritualidade, a nossa essência interior, quer estejamos conscientes ou não disso.
Todo ser humano busca um sentido para a sua vida, ato no qual reside a sua espiritualidade.
O vazio existencial em que a civilização ocidental se encontra imersa hoje vem exatamente do distanciamento da própria espiritualidade ao qual ela foi lançada pelo paradigma materialista.
Espiritualidade, portanto, significa a busca da própria essência interior, fato que se constitui uma necessidade de todo ser humano.
Por isso, o objetivo da ciência deve ser o de proporcionar o autoencontro do ser humano.
Esse é o grande papel da Psicologia Consciencial.
Religiosidade: a palavra religiosidade origina-se do latim religare, ato de ligar alguma coisa a algo ao qual já foi ligada.
A religiosidade é o ato que leva a criatura a se religar ao seu Criador.
É uma consequência da espiritualidade, pois, à medida que ocorre o encontro consigo mesmo em essência, com a Essência Divina que somos, o ser humano sente a necessidade de se religar a Deus, Arquétipo Primordial.
É também um sentimento inato de todo ser humano, visto que existe em todas as culturas e em todos os povos.
Por mais que o paradigma materialista tente sufocar esse sentimento no ser humano, ele está sempre buscando religar-se a Deus, de forma consciente e até inconsciente, pois a presença de Deus é imanente em nós.
A religiosidade pode ou não fazer com que a pessoa busque uma religião.
Existem pessoas que são avessas a uma religião formal, apesar de cultivarem a espiritualidade e a religiosidade.
Atualmente há várias pesquisas científicas demonstrando que há dois tipos de religiosidade: a extrínseca e a intrínseca.

  • Extrínseca – quando a pessoa busca atender as suas necessidades por meio da religião. Há um sentimento de utilitarismo religioso.

O objetivo daquele que professa a religiosidade extrínseca é conseguir da religião benefícios para resolver os seus problemas emocionais e materiais.
Esse tipo de religiosidade acaba sendo negativo quando surge algo que a pessoa pensa ser castigo que Deus está enviando para ela.
Está associada a emoções negativas, como medo, ansiedade, culpa e depressão.

  • Intrínseca – a pessoa busca sentir Deus por meio da sua espiritualidade.

O seu movimento é interior, no qual a religião ocupa um papel central na vida da pessoa, que utiliza a religiosidade de modo construtivo.
Tem a ver com a prática de virtudes como a aceitação daquilo que não pode ser mudado, a fé intrínseca, a serenidade, a alegria de viver etc.
Ela se vê como alguém capaz de aprender com os desafios da vida.
As pesquisas têm demonstrado que a religiosidade intrínseca traz uma abordagem religiosa positiva e, por isso, é um fator considerável para evitar e melhorar as doenças mentais, tais como a depressão, a ansiedade generalizada, as fobias, dentre outras.
A verdadeira ciência tem o papel de oferecer subsídios aos seres humanos para que ampliem a sua visão de espiritualidade e de religiosidade intrínseca, para que se libertem do fanatismo, da superstição e do pensamento mágico, que ainda subsistem em muitas religiões.
Na medida em que a ciência se liberta do dogmatismo e torna claras e lógicas todas as questões referentes ao Espírito no seu processo de ser um Ser em evolução e a Deus como sendo uma Grande Energia Criadora que organiza e comanda o universo, ela cumpre o seu papel de auxiliar a proporcionar um sentido para a vida do Ser Humano.
Religião: a religião é o ato de formalizar, por meio de um conjunto de práticas, a busca de uma ligação com algo transcendente.
As religiões deveriam cumprir um papel de desenvolver no ser humano a espiritualidade e a religiosidade intrínseca, contudo a maioria delas não cumpre esse propósito, porque estão mais centradas em rituais e práticas exteriores, do que nas interiores.
A grande maioria das religiões ainda está presa ao dogmatismo teológico, ao fanatismo, às superstições, ao pensamento mágico que faz com que o ser humano se afaste da própria essência e do Arquétipo Primordial, o Deus Cósmico, Energia Criadora do universo.
Muitas religiões, inclusive, são regidas pelo próprio paradigma materialista, em nome do qual, criam-se um verdadeiro comércio com as coisas “santas”, outras geram guerras “santas”, morte e destruição de pessoas e ideais.
Por isso, muitas pessoas, dentre as quais muitos cientistas, afastam-se das religiões por verem nelas um cerceamento da liberdade de discernir do ser humano.
No entanto, as verdadeiras religiões têm em sua essência a ideia real da espiritualidade e religiosidade intrínseca, que constitui o ponto de união entre elas.
O grande papel da ciência é oferecer à religião subsídios para que se estreite mais esse ideal de espiritualidade e religiosidade, de modo que se dissipe a grande fragmentação a que se lançaram as centenas de religiões existentes hoje no mundo.
Apesar de não ter nenhum vínculo com qualquer religião, ao fortalecer os sentimentos de espiritualidade e religiosidade intrínseca, a Psicologia Transpessoal-Consciencial pode se tornar uma grande auxiliar das religiões sérias que buscam esse ideal.
[1] MASLOW, A. Introdução à Psicologia do Ser. 2. ed. Rio de Janeiro: Eldorado, s/d, p 12

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