Os dois tipos de religiosidade, a segunda é paradoxal
Neste artigo sobre Psicologia Consciencial continuaremos a refletir sobre a fé e a sua relação com a religiosidade e espiritualidade.
As pesquisas científicas relacionadas à espiritualidade e religiosidade têm demonstrado que há dois tipos de religiosidade: a intrínseca e a extrínseca.
Na intrínseca a pessoa cultiva uma fé intrínseca em Deus que independe da religião, pois ela busca a conexão com Deus em seu coração.
As pessoas que cultivam a religiosidade intrínseca tem menos possibilidade de desenvolver doenças de caráter emocional como a depressão, a ansiedade generalizada, o transtorno bipolar, dentre outras.
Na religiosidade extrínseca a pessoa tem uma relação com a religião utilitarista, pois a busca para resolver problemas e obter benefícios e quando não os obtêm sentem-se punidas por Deus, dentre outras questões de ordem teológica-dogmática.
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As pesquisas demonstram que as pessoas que cultivam a religiosidade extrínseca têm propensão maior a desenvolver doenças emocionais devido ao negativismo relacionados às suas próprias crenças que geram culpa e processos punitivos.
Para sentir a fé intrínseca geradora da religiosidade intrínseca, é imprescindível que o indivíduo desenvolva as virtudes da mansidão e da humildade, reconhecendo a sua vulnerabilidade.
Apesar de parecer paradoxal, quando o indivíduo reconhece a sua vulnerabilidade cria a fortaleza, pois, ciente de sua pequenez, ele se entrega à força divina e desenvolve a virtude do sentimento de proteção essencial, e nisso se fortalece para o movimento de crescimento interior em direção ao propósito existencial.
Portanto, para que a fé se aprofunde dentro de nós, a pessoa é convidada a reconhecer, total e profundamente, toda a sua vulnerabilidade.
Reconhecendo-a, ela toma consciência de sua condição de criatura, filha de Deus, intensamente necessitada, em todos os instantes, do imenso amparo do Criador.
Enquanto há no coração a presença do orgulho, do egoísmo e da rebeldia, que levam o indivíduo a se pensar forte e autossuficiente, a fé é débil e impotente e ele sofre intensamente.
Contudo, isso, cedo ou tarde, leva o indivíduo à decisão para exercitar plenamente o seu livre-arbítrio, indo ao encontro de Deus por livre e espontânea vontade.
Esse é o ponto de mutação no qual o indivíduo, cansado do sofrimento que o abuso dos instintos e das emoções egoicas geradas pelo egoísmo, orgulho e rebeldia lhe geram, permite-se a plena conexão com o código moral em sua consciência, impulsionado pela força endoevolutiva.
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A fé tem, portanto, uma função terapêutica.
Após reconhecida a nossa vulnerabilidade, a função terapêutica da fé começa em refletir sobre as nossas atitudes perante todos os pontos que teimamos em não observar em nossa intimidade.
Reflitamos: após o reconhecimento de sua vulnerabilidade, o que mais deve buscar o aprendiz da vida sincero e verdadeiro?
Deve identificar os medos que traz em si mesmo para que possa, a partir disso, fortalecer-se para a superar as próprias limitações geradas pelo medo.
Psicologicamente, o medo está ligado à ignorância em relação à vida, que gera insegurança.
Contudo, em nível mais profundo, as suas causas remontam a algo muito mais significativo para o espírito imortal.
Nós, espíritos imortais encarnados, não estamos abandonados, mas nem sempre sabemos e sentimos isso em nossa intimidade.
Para não nos sentirmos abandonados, somos convidados à conexão com o Arquétipo Primordial.
Se estamos desconectados de Deus, sentimo-nos desamparados, apesar de, verdadeiramente, Ele nunca se afastar de nós e nos abandonar.
A ignorância das leis que regem o universo é o que propicia essa desconexão e leva ao medo.
Biologicamente, há um medo instintivo.
Trata-se do medo primário, natural, que vem do instinto de conservação, o qual gera, para a manutenção da vida, a resposta luta e fuga.
Em uma situação de perigo real, se não sentirmos medo, vamos expor a nossa integridade física, submetendo-nos a riscos desnecessários que podem culminar na morte prematura.
Assim, esse medo é útil e benéfico.
Quando, porém, nos sentimos abandonados, desconectados do Criador, começamos a desenvolver o medo patológico.
Por isso, há a necessidade de reconhecermos a nossa vulnerabilidade para que haja a conexão com o Criador.
Ao reconhecê-la, entraremos em contato com os nossos medos. Esse contato pode se dar de duas formas: egoica e essencial.
Na forma egoica, devido aos hábitos de utilizar o instinto de defesa, queremos nos proteger do contato com os medos, reprimindo-os.
Ao reprimir o medo, criamos o conflito de vulnerabilidade, tornando o medo psicológico um medo patológico.
Dessa forma, ao invés de o reconhecimento da vulnerabilidade nos auxiliar, fazendo-nos sentir o amparo de Deus, trilhamos o caminho oposto, desenvolvendo a síndrome do medo resultante do conflito de vulnerabilidade.
Fica claro o estado de fraqueza moral, em que há um sentimento de menos-valia.
Somos convidados a buscar a forma essencial de lidar com o sentimento de vulnerabilidade, na qual o contato com os medos que todos possuímos, em menor ou maior grau, é realizado pelo mergulho interior na própria vulnerabilidade para nos sentirmos fortes, porque o fortalecimento não virá da luta do instinto de defesa contra o medo, mas sim da confiança de que não estamos abandonados, da certeza de que estamos protegidos por Deus e que não necessitamos entrar num sentimento de autoproteção pseudo-onipotente, em uma tentativa vã de nos proteger.
O equilíbrio nessa questão está em se manter os cuidados naturais da vida.
Com isso, preservamo-nos da síndrome do medo, que nos leva a desenvolver distorções cognitivas, a acreditar que estamos correndo perigos iminentes e que precisamos nos proteger de todas as formas.
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Tudo isso nos torna acuados pelo medo patológico.
No processo egoico, ao entrar na síndrome do medo, a pessoa se afasta ainda mais de sua Essência e se desconecta mais intensamente de Deus.
Somente conectados com a Essência Divina que somos e com Deus desenvolveremos a vontade de cuidar de nós mesmos, verdadeiramente, na medida exata, nem mais nem menos.
Quando desenvolvemos a síndrome do medo, reforçamos o sentimento de abandono existencial.
Portanto, para que possamos nos fortalecer a partir do amor de Deus, por meio do reconhecimento de nossa vulnerabilidade, há a necessidade de se desenvolver um profundo sentimento de autocuidado, que está vinculado ao autoamor.
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