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Como se libertar do temor a Deus

Como se libertar do temor a Deus

Neste artigo sobre Psicologia Consciencial continuaremos a refletir sobre a terapia dos símbolos do Evangelho de Jesus. Desta vez trabalhando a questão da fé.

No âmbito da Psicologia Consciencial, trabalhamos a fé em uma visão não religiosa, não teológica, que surge a intrinsecamente dentro do ser humano.
Ainda há uma ideia de que o ser humano tem fé ou não, como se fosse algo que alguns ganharam e outros não.
Essa é uma visão teológico-dogmática de fé.
Ao longo dos séculos, a visão teológica da fé foi instituída como algo que a criatura é obrigada a sentir pelo Criador.
Isso não é um processo natural, pois, nessa abordagem dogmática, a fé é construída por imposição, porque está atrelada à perspectiva de um Deus que pode puni-la e não um Deus que a ama.
Vejamos o que Viktor Frankl diz sobre isso no livro A presença ignorada de Deus:

Em todos os casos poder-se-ia dizer que a logoterapia – a qual primariamente não deixa de ser uma psicoterapia e, como tal, de pertencer à psiquiatria, à medicina – pode ocupar-se legitimamente não só com a vontade de sentido, mas com a vontade de um sentido último, de um suprassentido, como costumo chamá-lo; e em última análise a fé religiosa é uma fé no suprassentido, uma confiança no suprassentido.

Não há dúvida de que essa nossa concepção de religião tem muito pouco a ver com a estreiteza confessional e sua consequência, ou seja, a miopia religiosa que parece ver em Deus um ser que basicamente só pretende uma coisa: que o maior número de pessoas creia nele e ainda bem do jeito prescrito por uma denominação determinada. Simplesmente não consigo imaginar que Deus seja tão mesquinho. Igualmente acho inconcebível uma igreja exigir de mim que eu creia.

[…]

Certo dia fui entrevistado por uma repórter da revista americana Time. Perguntou se a tendência atual era se afastar da religião. Disse-lhe que a tendência era afastar-se não da religião, mas daquelas denominações que parecem não ter outra coisa que fazer senão combater-se mutuamente e fazer proselitismo uma na outra. Ela então perguntou-me se isso significa que mais cedo ou mais tarde haverá uma religião universal; isto eu neguei: ao contrário, disse eu, não estamos caminhando em direção a uma religiosidade universal, mas antes para uma religiosidade pessoal, profundamente personalizada, uma religiosidade a partir da qual cada um encontrará sua linguagem muitíssimo pessoal, sua linguagem própria, mas originalmente sua, ao voltar-se para Deus. [1]

Muito interessante a abordagem de Viktor Frankl sobre a fé e a religiosidade, pois está de acordo com a proposta do Cristo, em João 4: 21,23,24:

Crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.

Vejamos que Jesus diz que futuramente adoraríamos a Deus não em um templo específico, mas em espírito e verdade, ou seja, de forma muitíssimo pessoal em nossa intimidade, por meio de uma fé intrínseca liberta de todos os dogmas teológicos.
Adorar Deus em espírito e verdade, é cultivar o amor a Ele no altar do próprio coração.
A visão de Viktor Frankl sobre a imposição das religiões dogmáticas também é muito significativa e vai ao encontro da visão que temos na Psicologia Consciencial de que a fé é uma virtude a ser desenvolvida e jamais imposta de forma dogmática.

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Para ser compreendida em seu aspecto intrínseco, a fé é fruto do relacionamento do indivíduo com o Criador, no qual aquele se sente natureza e não apenas parte da natureza e, por isso, está integrado como uma obra verdadeiramente elaborada, criado para oferecer ao Universo as manifestações morais em plenitude.
A fé intrínseca está relacionada à nossa condição de sermos filhos de Deus.
A fé intrínseca é a que vai gerar a fé convicta. A fé convicta é o processo, portanto, que vai se construindo pela energia essencial da fé intrínseca.
O desenvolvimento da fé convicta passa pela compreensão da lei de liberdade.
O ser humano, espírito imortal momentaneamente vivendo em um corpo, é livre para amar a Deus, livre para se sentir filho de Deus e é convidado a superar o sentimento de obrigação embutida nas mais variadas formas que as religiões lhe imprimiu nos sentimentos.
Dizemos religião, não no seu sentido amplo e adequado, mas do controle religioso feito pelos religiosos dogmáticos, conforme descreve Viktor Frankl em seu texto.
Tudo que existe no Universo no que tange às leis naturais e tudo que é obra de Deus nos demonstra que Deus nos ama e nos protege.
Entretanto, o medo embutido nos sentimentos, devido aos dogmas religiosos, faz com que o indivíduo nem se permita se sentir livre para amar o Deus amoroso que o criou, porquanto traz impresso na sua mente um Deus teológico que se deve temer e crer por obrigação para se livrar das punições divinas.
Por exemplo, na visão teológica da reparação existe uma perspectiva de um Deus que perdoa desde que o indivíduo se arrependa e se entregue à sua vontade, que o fica aguardando assumir o erro e penitencie-se para depois ser aceito entre os eleitos.
Percebamos que existe uma visão de um Deus que fica aguardando que o indivíduo faça algo para ser agradável a Ele.
Na perspectiva da fé intrínseca, em uma abordagem psicológica consciencial, não há essa visão de Deus aguardando a pessoa acertar para agradá-lo.
Ela mesma se sente intimamente ligada às forças supremas da natureza e considera a possibilidade de reparar os erros como um fenômeno natural.
Não é Deus em si, no aspecto humanizado que a aguarda; é o próprio ciclo da vida que a convida, consciencialmente, a se arrepender e reparar, pois ela está intimamente ligada com os mecanismos naturais.
Portanto, quando o indivíduo se equivoca, por se sentir um aprendiz da vida que traz em si o código moral de leis sabe que pode aprender com o erro e repará-lo, quantas vezes forem necessárias.
Quando o indivíduo se sente verdadeiramente seguro, porque ama realmente a Deus e se sente amado por Ele, os acontecimentos e os seus atos não fazem referência a processos de julgamento e punição, mas endereçam ao Criador uma intensa corrente de amor que brota do próprio coração e se entrega aos desígnios de Deus também por amor.
Então, o indivíduo se sente impulsionado pela própria natureza da vontade de Deus, que o ama de maneira tão profunda que é para ele um enorme prazer perceber como agiu, e se a sua ação foi em dissonância com o código moral, que traz ínsito em si, ele mesmo sente, cedo ou tarde, vontade de se melhorar conectando as suas ações com o código.

Assista também o vídeo: A Existência de Deus

Vejamos que na visão teológica de fé existe uma dicotomia entre Deus e o indivíduo, na qual está embutido um processo do servilismo, em que ele tem que se submeter para agradar a Deus para não ser punido.
No âmbito da Psicologia Consciencial, a fé é uma virtude a ser desenvolvida, porquanto a pessoa é estimulada a se aproximar de Deus por livre e espontânea vontade, por meio da conexão com o código moral.
Essa fé intrínseca, viva e convicta, permite aquilo que o psiquiatra Carl Gustav Jung chamou de experiência numinosa. Numinoso é aquilo que é influenciado pelas qualidades transcendentais da divindade.
Jung era convicto sobre as manifestações espirituais do Ser, a ponto de afirmar ao ser questionado sobre porque falava de Deus na psiquiatria: “Faço isso com o mesmo direito com que a humanidade desde sempre chamou de Deus aqueles efeitos numinosos de certos fatos psíquicos com causa desconhecida. Esta causa está além de minha compreensão e por isso nada mais posso dizer dela a não ser que estou convencido de sua existência.”[2]
Jung cita em suas obras inúmeras experiências numinosas que acontecem em várias culturas, diferentes filosofias de vida, diferentes religiões, demonstrando o seu caráter universal.
A experiência numinosa universal é uma evidência da existência de Deus e da capacidade do ser humano de se religar em êxtase profundo com a Divindade, não importando a forma como isso é feito, fenômeno este gerado pela fé intrínseca, conforme postulamos, ou seja, a virtude pela qual o ser humano, conectado com o código moral de leis, religa-se intimamente com a Energia que o criou em um processo na vertical da vida e não de forma horizontal por meio de intermediários, como é a concepção teológico-dogmática.
O trabalho de se autoconhecer e de encontrar por meio de mecanismos diversos o sentido profundo da vida leva pela intrínseca relação da fé do indivíduo ao Criador universal, cósmico e imaterial essa intensa conexão, permitindo que ele supere a subconsciência, alcançando a consciência, e, dessa, a superconsciência.
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[1] FRANKL, V. A ignorada presença de Deus. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 78, 79
[2] JUNG, C. G. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2000, v. 2. p. 239

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