Em nosso artigo anterior sobre Psicologia Consciencial apresentamos a virtude da resiliência como um dos objetivos da psicoterapia consciencial. Neste apresentaremos um meio para desenvolver a resiliência como objetivo de vida, de modo a nos tornarmos mais saudáveis.
Para que a virtude da resiliência seja exercitada nas experiências-desafio, é importante que a estabeleçamos como um objetivo de nossas vidas. Portanto, para superarmos uma vida de nível subconsciente, tomando consciência de nós mesmos, com o objetivo de caminhar com mais desenvoltura, em direção a um estilo de vida mais verdadeiro e saudável consciencialmente, é fundamental traçar objetivos para realizar esse ideal, motivando-nos para a aproximação dos valores importantes para a nossa vida, desenvolvendo a ação da vontade.
Para realizarmos o objetivo de exercitarmos a resiliência, é necessário refletir sobre alguns estágios fundamentais, de modo que a idealização almejada pelo objetivo se torne realidade.
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Esses estágios são didáticos, pois o conjunto de todos eles forma um todo harmônico. Quando formulamos objetivos dessa forma, criamos um mapa mental, envolvendo pensamentos positivos, virtudes e uma vontade operante, que se manifestarão em comportamentos adequados, tornando-nos pessoas mais conscientes da nossa destinação.
Vejamos, a seguir, os estágios para a realização do objetivo de agir de forma resiliente.
Estágio 1 – Os objetivos devem ser expressos sempre em termos positivos, de forma bastante específica.
Você irá desenvolver aquilo que quer e não o que não quer. Esse estágio é fundamental para que haja a mobilização da motivação e da vontade de autotransformação e não do impulso de afastamento. Tendemos a nos afastar daquilo que nos incomoda, mesmo que isso gere um pseudoconforto transitório.
Para que a resiliência aconteça nas experiências-desafio e sigamos as diretrizes de nosso plano existencial, devemos estar focados naquilo que queremos: ser uma pessoa resiliente, que faz esforços continuados, pacientes, perseverantes e disciplinados quando apresenta algum dilema consciencial para ser resolvido dentro de alguma experiência-desafio.
Estágio 2 – Os objetivos devem ser sempre centrados em si mesmo.
Você pode mudar somente a sua maneira de agir e não a de outras pessoas, e a sua mudança não deverá estar condicionada à mudança de outras pessoas ou situações.
Nós só temos domínio sobre as nossas escolhas e não sobre as escolhas dos outros.
Estágio 3 – Todos os objetivos devem ser contextualizados. Onde, quando, como, de que maneira etc., se quer realizá-lo.
A contextualização tem a ver com a especificação do estágio 1. São os detalhes do mapa mental que você está construindo. Isso é importante para sistematizar o objetivo maior, contextualizando cada pequeno objetivo, para poder realizá-lo gradualmente, de forma concentrada.
O processo de contextualização é para que você se concentre, focando uma situação específica. Quanto mais foco você der ao seu objetivo, maiores as condições de você concentrar todo o esforço de sua energia mental para a mudança que você quer realizar.
Estágio 4 – Conhecer o estado interior para saber se está cumprindo o objetivo.
Em termos práticos, é saber definir bem o estado interior que determina se você está ou não cumprindo com seu plano existencial, sendo resiliente nas várias experiências-desafio. Saber as evidências é importante para termos parâmetros de avaliação. Normalmente, o estado de quem está cumprindo o seu plano existencial, tornando-se uma pessoa mais consciente e verdadeira, é o de harmonia, paz, tranquilidade, alegria e plenitude. O indivíduo se sente bem consigo mesmo.
O contrário acontece quando o indivíduo não está cumprindo o seu plano existencial, mantendo as escolhas impulsivas e/ou as movidas pela culpa e medo de errar tentando se afastar das experiências. Nesse caso, o estado interior é de desarmonia, angústia, intranquilidade, inquietude, desassossego. Ele não encontrará a paz e a felicidade, pois não é possível esses sentimentos sem que sejam realizados os esforços de mudança.
Estágio 5 – Todos os objetivos que a pessoa busque na vida devem estar alinhados com o propósito maior do Ser, dentro da ética do amor.
Não há como exercitar um objetivo de se cumprir o plano existencial se não houver o exercício constante de autoamor.
Somente cumpriremos o propósito de nos tornarmos mais conscientes e verdadeiros se estivermos em sintonia com o amor que rege o Cosmos, sendo colaboradores para a realização desse amor, que começa em nós e, a partir de nós, irradia-se para todos os seres do Universo.
Estágio 6 – Os objetivos devem ser sempre factíveis, isto é, possíveis de ser realizados.
Todo plano existencial é possível de ser realizado de forma resiliente. O grande problema para muitos é a preguiça moral ou a pressa de fazer tudo de forma abrupta. É preciso sempre lembrar que o plano existencial, composto de propósito existencial e programa existencial, é para a existência inteira.
Se nós quisermos fazer tudo de uma vez, só criamos um objetivo impossível de ser realizado e vamos nos frustrar. Isso significa que devemos fazer uma coisa de cada vez, cultivando o esforço continuado, a paciência, a perseverança e a disciplina na realização do plano.
Comumente, quando as pessoas se lançam a realizar um objetivo, buscam fazer muitas coisas ao mesmo tempo, em uma atitude de ansiedade em querer realizá-lo. Elas se forçam a realizar o objetivo, em vez de se esforçar, ato que pressupõe a continuidade, a paciência, a perseverança e a disciplina. Com isso, cansam-se e se decepcionam com elas mesmas, pois, como não conseguem efetivar o objetivo, logo desistem, dizendo que é muito difícil e que não conseguem fazê-lo.
Por isso, é fundamental realizar uma coisa de cada vez, de modo a tornar possível o objetivo, tendo sempre perseverança nas ações, conseguindo um pouco hoje, mais amanhã, e assim cumprir tranquilamente o plano existencial.
Para tornar os objetivos factíveis, é importante transformar o plano existencial, que é um objetivo amplo, em vários pequenos objetivos, que vão ser realizados um a um, conforme vimos nos estágios 1 e 3.
Estágio 7 – Definir claramente o que ganha com a realização dos objetivos.
O indivíduo deve refletir acerca de todos os benefícios reais que ele ganhará quando realizar o seu plano existencial, tornando-se mais consciente e resiliente frente à vida. Normalmente, o ganho maior é a evolução espiritual que nos felicita a vida, com certeza algo que todos nós queremos.
Estágio 8 – Definir o que impede a pessoa de realizar os objetivos.
Os fatores impeditivos são relacionados à preguiça moral e ao impulso de afastamento.
O mais profundo é não querer a realização do plano existencial em decorrência da forte acomodação que mantém, por causa do trabalho que é necessário realizá-lo. O indivíduo quer se afastar do trabalho que dá para cumprir o código moral e desenvolver as virtudes. Ele acredita que não pode realizar o plano, mas, na verdade, não está querendo fazer os esforços para ser resiliente.
Outro fator impeditivo é não acreditar que merece realizar as mudanças devido ao sentimento de culpa e autopunição que mantém, de forma consciente ou subconsciente, pois realizar o plano existencial gera felicidade, e quando traz o sentimento de culpa o indivíduo boicota a própria felicidade, pois admite que não a merece.
Outro fator são os ganhos secundários das máscaras do ego.
Esses fatores serão conhecidos por meio do autoconhecimento, que proporciona o autoencontro, isto é, perceber em si as limitações egoicas para poder transmutá-las, transformando fatores impeditivos em alavancas valiosas de impulsionamento ao crescimento interior. É assim que age uma pessoa que quer exercitar a virtude da resiliência, tornando a sua vida bem melhor.
É dessa forma, focando nos benefícios da mudança de atitude, que conseguiremos ser resilientes e realizar o nosso plano existencial, superando os fatores impeditivos.
Estágio 9 – Disposição para superar as dificuldades impeditivas.
Este item está relacionado ao ato de assumir as responsabilidades pelo conduzimento de nossa vida. Tem uma relação direta com a motivação e a ação transformadora ligada à vontade.
Para realizarmos o nosso plano existencial de forma resiliente, é necessário estar dispostos a superar tudo aquilo que nos leva a fugir de nós mesmos e a responsabilizar os outros ou a vida pelas nossas dificuldades ou pela nossa infelicidade.
É fundamental, portanto, a superação do autoengano de acreditar que a nossa vida não é fruto de nossas escolhas para assumir definitivamente a superação das dificuldades, que somente dizem respeito a nós mesmos. Somos convidados a assumir a responsabilidade pela nossa vida e conseguir, com isso, ganhos reais que nos enriqueçam interiormente.
Estágio 10 – Disposição para desenvolver os recursos que sejam necessários para se realizar o objetivo.
É importante lembrar que existem os recursos internos, que são as virtudes essenciais, e os externos. Devem-se buscar, por meio do autoconhecimento, quais são as virtudes essenciais que devem ser desenvolvidas para transmutar os sentimentos egoicos evidentes e mascarados, que impedem a realização do plano existencial, especialmente a virtude do propósito existencial, bem como utilizar outros recursos tais quais a meditação, a oração, o estudo de obras que auxiliem no autoconhecimento, cursos de autoconhecimento, psicoterapia consciencial etc. com o objetivo de se aprimorar interiormente, e conseguir realizar o propósito de se tornar mais autoconsciente e saudável emocionalmente.
Estágio 11 – Agir com flexibilidade e responsabilidade.
Ao realizar um objetivo, há sempre duas possibilidades: acertar ou errar. Em quaisquer das hipóteses, somos convidados ao aprendizado. Devemos buscar, em caso dos erros cometidos, o exercício da virtude da flexibilidade, estabelecendo reflexões para cada passo a ser dado na realização do objetivo, exercitando também a virtude da responsabilidade para aprender com o erro, e jamais se culpar ou de se desculpar quando praticar algum ato equivocado, ao realizar o seu objetivo. Essa, sim, é uma escolha autoconsciente.
A flexibilidade e a responsabilidade devem acontecer sempre quando ocorrer um erro. Ao errar, você deve se perguntar o que aconteceu para que esse erro ocorresse. A flexibilidade permitirá a você refletir acerca do equívoco, como um aprendiz da vida, para aprender com ele.
A responsabilidade leva você a reparar as consequências do seu erro, tantas vezes quantas forem necessárias, aprendendo sempre com as conquistas-aprendizado, até que as conquistas-êxito se tornem uma constante em sua vida, num processo de autoconsciência.
Todos oscilamos em termos dos exercícios das virtudes, pois nem sempre estamos dispostos a fazer os esforços necessários, e, em decorrência disso, cometemos erros, agimos da forma que não deveríamos, mas isso não deve ser motivo para desanimar. O indivíduo que está exercitando a resiliência age com flexibilidade e responsabilidade, acolhendo-se quando comete erros, aprendendo e reparando os erros para prosseguir realizando o seu objetivo de cumprir o plano existencial.
Estágio 12 – Efetivação do objetivo.
Ao realizar todas essas ações, concluímos o objetivo a ser realizado, sabendo que vamos ter centenas de objetivos durante toda a existência para que, com dedicação e entusiasmo, realizemos o nosso plano existencial de forma resiliente.
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