A tomada de consciência para a prática das virtudes
Neste artigo continuamos a refletir sobre uma das ferramentas mais importantes da Psicologia Consciencial, que é o desenvolvimento das virtudes.
Para desenvolver as virtudes, somos convidados a passar por três fases: a identificação essencial, o autoacolhimento afetuoso e o exercício efetivo.
Estudemos em detalhes cada fase:
- IDENTIFICAÇÃO ESSENCIAL: o primeiro passo no desenvolvimento das virtudes é reconhecer que elas já existem em nós em estado de latência no Ser Essencial que somos e que é pelo exercício delas que transmutamos os sentimentos egoicos que temos.
Este reconhecimento é fundamental, pois, muitas vezes, acreditamos que as virtudes estão muito distantes de nós e que o seu desenvolvimento representa uma utopia. Porém, essa ideia não é real. O que é real é que já trazemos todas as virtudes latentes, como pequenas sementes dentro de nós, esperando apenas que as cultivemos. Essa é a nossa verdadeira natureza. O ego, com seus desejos e mascaramentos, é apenas um processo transitório em nós.
Portanto, quando sentimos vontade de desenvolver determinada virtude como a serenidade para nos libertarmos da ansiedade, é importante lembrar que o primeiro passo é se identificar com essa virtude que já existe dentro de nós. Muitas vezes, já a começamos desenvolver. Utilizando a analogia da semente, para determinada virtude ela já pode ter germinado e estar como um pequeno arbusto, outra virtude ainda na forma de semente, em outra a plantinha acabou de germinar, enfim, as várias possibilidades existem em você, aguardando o cultivo.
O que importa é saber que você já traz todas essas virtudes dentro do núcleo mais profundo do seu ser. Identificar-se com essa realidade é fundamental.
- AUTOACOLHIMENTO AFETUOSO: sentir afeto por si mesmo e pela virtude em desenvolvimento por meio do autoacolhimento constante, evitando se julgar e se condenar ao reconhecer os sentimentos egoicos evidentes e mascarados se manifestando. Eles somente representam o não exercício da virtude correspondente.
Por isso, acolher a própria personalidade em conjunto com a face evidente do ego é imprescindível, mesmo quando percebemos que estamos usando a personalidade para as escolhas egoicas.
É muito comum as pessoas se rejeitarem quando percebem as suas escolhas equivocadas, mas não é assim que vai acontecer a transmutação. Quando nos rejeitamos, acabamos por desenvolver um mascaramento dos sentimentos egoicos e não a sua transmutação. Somente nos acolhendo incondicionalmente é que iremos tomar a decisão de mudar as nossas escolhas, fazendo a escolha consciencial de desenvolver as virtudes.
- EXERCÍCIO EFETIVO: a terceira etapa do desenvolvimento das virtudes constitui-se no exercício gradual das virtudes no dia a dia por meio do esforço de autoconhecimento e autotransformação, sabendo que o processo de transmutação dos sentimentos egoicos por meio do exercício das virtudes deve ser gradativo e suave.
Por isso, o desenvolvimento das virtudes é algo que acontecerá aos poucos, requerendo um esforço continuado, paciente, perseverante e disciplinado como o cultivo de uma árvore frutífera pede.
Nas várias experiências em que um sentimento egoico se manifestar, a pessoa é convidada a exercitar a virtude que o transmuta. Nesse esforço, às vezes ela não consegue praticar a virtude, outras vezes consegue parcialmente e em outras pode conseguir transmutar o sentimento egoico que se manifestou naquele momento. Qualquer que seja o resultado, é fundamental que ela continue o acolhimento afetuoso da fase anterior todas as vezes em que não conseguir exercitar a virtude ou quando o fizer parcialmente, pois o processo de mudança é realizado de uma forma gradual, com suavidade e leveza.
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Novamente utilizando a analogia da semente, é importante lembrar que você está produzindo um grande pomar com frutos deliciosos e que o cultivo de todas essas árvores das virtudes requer tempo e cuidados constantes, mas que valem a pena serem realizados, pois o resultado será muito gratificante.
Para saber se você realmente está realizando o trabalho de desenvolver as virtudes, é importante fazer uma autoavaliação periódica, analisando-se em diferentes épocas de sua vida com relação à determinada virtude que você está exercitando. Pergunte-se como você estava com relação a tal virtude há 1 ano, há 2 anos, há 5 anos, enfim, em diferentes épocas de sua vida, e avalie-se de forma autêntica e verdadeira se a virtude está mais presente em suas atividades diárias. Se perceber-se exercitando a virtude gradualmente é porque você está no caminho certo, caso contrário analise-se para saber onde estão as falhas.
Outra maneira de se avaliar é por meio das virtudes-avaliação: suavidade, leveza e contentamento. Quando desenvolvemos as virtudes, a nossa vida vai se tornando cada vez mais suave e leve e um contentamento toma conta de nós, mesmo nas situações mais desafiadoras, porque nos percebemos evoluindo em cada experiência que a vida nos traz para aprendermos uma lição.
A leveza, suavidade e contentamento que sentimos não quer dizer que o processo de desenvolvimento de virtudes é fácil e totalmente prazeroso. Ao contrário, é um processo trabalhoso e, muitas vezes, sentimos desconforto em realizá-lo, porquanto ainda não temos o hábito de exercitar as virtudes instaladas, mas sempre poderemos sentir o contentamento e a alegria existencial de tomar essa decisão consciencial. Aos poucos, o processo de autoconhecimento e autotransformação vai se tornando um hábito cada vez factível, tornando a nossa vida mais suave, leve, e aí, sim, o prazer de se melhorar vai tomando conta de nós, até se tornar uma alegria existencial constante repleta de suavidade e leveza para dirimir cada conflito que surge.
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