Neste artigo sobre Psicologia Consciencial refletiremos sobre como encontrar um sentido para a sua vida.
Em suas obras, Viktor Frankl aborda a importância se encontrar um sentido para a vida inúmeras vezes.
Vejamos algumas de suas citações:
O homem é um ser à procura de sentido. Na busca do sentido só a consciência o ajuda. Assim se pode, pois, definir o órgão de sentido nele ‘embutido’. Ele ilumina a respectiva possibilidade de sentido subjacente à realidade, e torna transparente a realidade em relação à possibilidade de sentido.[1]
[…]
Nós vimos que sempre e em toda parte há um sentido. Todavia apenas no sentido de um sentido particular, como nós o podemos experimentar através da nossa ‘vontade de sentido’ e graças aos nossos ‘órgãos de sentido’, a saber, da consciência. No que toca a esta nossa vontade de sentido, ela é indispensável, nós não podemos nada além de ‘querer sentido’, a vontade de sentido é nesta acepção transcendental e algo a priori (Kant) ou existencial (Heidegger), ela está tão arraigada na condition humaine (condição humana), que nós não podemos nos abster de ‘procurar sentido’ até que nós creiamos tê-lo encontrado.[2]
[…]
E se a logoterapia não concebe da mesma forma o fenômeno desta fé como crença em Deus, mas concebe-a como uma mais ampla crença no sentido, então é inteiramente legítimo que ela não se ocupe apenas com a ‘vontade de sentido’, mas também com a vontade de um sentido último, um supersentido. A fé religiosa é no fim uma crença no supersentido – pelo menos Lugwig Wittgenstein oferece-nos a seguinte informação: “Crer em Deus significa ver que a vida tem um sentido”.[3]
[…]
Em virtude da autotranscedência da existência humana o homem é um ser em busca de sentido. Ele é dominado pela vontade de sentido. Hoje, contudo, a vontade de sentido está frustrada. Cada vez mais os pacientes voltam a nós psiquiatras queixando-se de sentimentos de falta de sentido e de vazio, de uma sensação de futilidade e de absurdo. São vítimas da neurose de massa de hoje. […] Fenômenos de dimensões mundiais tais como a violência e as drogas, ou taxas impressionantes de suicídio, particularmente entre a juventude universitária, são alguns sintomas desses sentimentos[4].
A visão de sentido a que se refere Viktor Frankl é muito próxima da que postulamos na Psicologia Consciencial, pois o psiquiatra vienense vincula diretamente a busca de sentido à consciência, que ele chega a chamar de “órgão de sentido”, bem como a coloca como algo transcendente no ser humano, que a traz arraigada em sua condição humana.
Essa concepção vai ao encontro da visão que temos da força endoevolutiva, a força intrínseca de Deus ínsita em nós a nos convidar a buscar o sentido existencial, de modo que conquistemos a plenitude existencial.
Todos buscamos esse sentido último ou supersentido, conforme postula Frankl.
A afirmação de Viktor Frankl de que: cada vez mais os pacientes queixam-se de sentimentos de falta de sentido e de vazio, de uma sensação de futilidade e de absurdo é ainda mais válida em nossos dias do que no século passado.
O vazio existencial tem tomado conta das pessoas na atualidade, levando-as em muitos casos à depressão, às drogas, ao alcoolismo e, principalmente, ao suicídio.
É por meio do sentido da vida como algo intrínseco e transcendente existente no espírito, no ser imperecível que se pode sentir realmente porque o ser humano vive em busca de sentido, mas não necessariamente compreende essa busca.
Existe o potencial ínsito, mas, se não houver a informação, o esclarecimento saudável, o que é ínsito não consegue alcançar os parâmetros da compreensão lógica.
Esse foi o papel pioneiro da logoterapia de Viktor Frankl e é a principal função da Psicologia Consciencial: auxiliar as pessoas a se esclarecerem sobre o real sentido da vida por meio da reflexão da existência do plano existencial, que transcende toda e qualquer questão material.
O conhecimento da imortalidade e dos processos ligados às leis criadas pelo Arquétipo Primordial, como a lei da reencarnação, uma lei biológica, com finalidade de aperfeiçoamento moral, oferece, portanto, ao ser humano a junção desses dois fatores: o processo intuitivo da busca do sentido que provém da força endoevolutiva, em conjunto com as explicações lógicas de como tudo funciona no interior do indivíduo dão sentido a essa intuição.
Viktor Frankl aborda a intuição desse sentido ínsito no ser, a busca natural e inerente, que ele denominou de sentido último ou supersentido.
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Contudo, a lógica da Psicologia Consciencial afirma e complementa com os parâmetros da existência de leis criadas por Deus para organizar o Universo, leis físicas, biológicas e morais que trazem a ideia da imortalidade e de uma finalidade maior para a vida transitória no corpo físico, direcionando o ser humano em se responsabilizar por sua vida, construindo um sentido profundo e transcendente.
Como afirmou Viktor Frankl no texto acima, as queixas mais frequentes dos pacientes nos consultórios dos psiquiatras e psicólogos são de sentimentos de falta de sentido e de vazio interior.
Hoje em dia, essa condição tem alcançado uma quantidade ainda maior de pessoas do que na época em que ele escreveu esse texto.
Muitas pessoas têm feito perguntas ao longo da trajetória evolutiva da humanidade, especialmente na atualidade, tais como: Qual a finalidade da existência?
Existe um sentido nisso tudo?
Prosseguir a vida para quê?
Essas e outras perguntas existenciais têm sido formuladas por milhões de pessoas pelo mundo a fora.
Muitas afirmam que nada faz sentido, daí o aumento assustador da depressão e do suicídio.
As ciências em geral, e a psicologia tradicional em particular, bem como a filosofia, não têm auxiliado de uma forma eficiente as pessoas a responderem a essas perguntas.
A Psicologia Consciencial auxilia-nos a responder a essas perguntas com base em argumentos lógicos, ajudando o ser humano a encontrar o seu sentido último, ou seja, um sentido que não se trata de um sentido no âmbito do fazer apenas, mas um sentido do se tornar alguém que compreende a finalidade maior da vida, sabendo que há um plano existencial que transcende as questões materiais e que a efetivação de tal plano o conduzirá à felicidade.
A Psicologia Consciencial afirma que o sentido do se tornar pleno é muito mais influente na construção do sentido da vida, porque a vida impulsiona várias possibilidades para a felicidade e que isso não está naquilo que se faz, mas no que significa aquilo que se faz e, principalmente, no que o indivíduo se torna a partir de tudo o que faz.
Quando isso fica compreensível, o ser, então, estabelece uma relação com a sua dimensão essencial, porque o tornar-se é resultado do autoconhecimento que visa à autotransformação, de modo que o indivíduo se autoilumine, ascendendo na vertical da vida.
Por mais que se faça algo, esse algo pode não ser possível de ser feito em algum momento, mas, quando se foca no ser, ele se estende ao infinito, pois o ser é atemporal.
Exemplificando, suponhamos que alguém busque significado em uma profissão como a de médico, e isso o preencha de significado enorme, fazendo com que a pessoa sinta muita alegria com a sua atuação.
Pode ser que em determinado momento não lhe seja possível exercer essa atividade, por causa de uma doença específica ou aposentadoria, por exemplo.
O que pode vir a acontecer?
Duas coisas em termos gerais: ressignificar e buscar um outro modo de ação ou o indivíduo entrar em um estado depressivo por não ter a ocupação que lhe dava sentido.
Entretanto, se tudo quanto ele realizou foi muito mais do que ele fez, foi o que ele se tornou com as suas atividades como médico, quando não puder mais exercer essa profissão estará feliz da mesma forma por ter feito a diferença positiva para a comunidade na qual serviu, tornando-se uma pessoa melhor pelo esforço para cumprir o código moral de leis, exercitando as virtudes em cada ato praticado na profissão e fora dela.
Ele reconhece tudo o que se tornou e desfruta disso, ampliando isso nos sentimentos.
Portanto, não é o fato circunstancial que vai interferir numa questão que é existencial.
O sentido, dessa forma, é plenamente existencial.
O sentido existencial é resultante daquilo que sentimos em nós mesmos.
Se nós nos sentimos tranquilos, serenos, alegres por nos tornar cada vez mais plenificados, sentir-nos-emos inteiramente senhores de nós mesmos, porque sabemos que essa alegria é advinda de tudo quanto nos decidimos nos tornar enquanto praticávamos várias e várias ações para o desenvolvimento de nossa plenificação.
Sabemos que essa reflexão ainda é complexa para muitas pessoas, porque tudo quanto se entende como alegria ou felicidade está no âmbito do que se faz, mas, meditando com profundidade, perceberemos um detalhe fundamental.
Quando realizamos algo, existem três questões: nós mesmos, aquilo que realizamos e o que resulta em nós daquilo que realizamos.
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Nós somos os seres pensantes com sentimentos e vontade, em sintonia com o código moral de leis, praticando as virtudes essenciais; o que realizamos é o ato; e o que resulta do que realizamos é a transformação na qual o fluxo das leis morais pela prática das virtudes torna-se uma constante em nossa estrutura psicológica, formando um ser cada vez mais plenificado, mais realizado, porque está diante daquilo que foi se tornando enquanto realizava.
É nisso que consiste o indivíduo: poder desfrutar das oportunidades, aproveitando de cada ensejo da sua relação com a realidade exterior para consolidar a sua dimensão interior.
A visão de sentido existencial que ainda impera comumente está focada na emanação de sentido.
Na Psicologia Consciencial, encaramos a emanação de sentido, ou seja, buscar sentido fora de nós, como consequência de um aspecto maior que é a produção de sentido.
Não existe emanação verdadeira, em nível mais profundo, sem a produção de sentido que é interior.
A produção de sentido acontece quando buscamos um sentido que é individual e intransferível, pois ninguém pode fazer isso por nós.
Tem a ver com o cumprimento do código moral de leis e a prática das virtudes.
As atividades exteriores qualquer pessoa pode fazer; já as interiores somente nós mesmos podemos realizá-las.
Em Lucas 17:20,21, Jesus ensina que: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está dentro de vós.
Essa orientação do Cristo nos remete à produção do sentido existencial.
Percebamos que, para estar dentro de alguém, é porque esse alguém experimenta o reino.
Nada está dentro de alguém que fique fora da experiência.
Foi exatamente essa uma das propostas terapêuticas de Jesus: o reino de Deus ou o reino dos céus está dentro de nós para que experimentemos esse reino, para que ele seja uma realidade vivida, experimentada não apenas do ponto de vista de uma ideia moral, mas de uma ideia concreta, vivida em nós mesmos.
O reino de Deus é sentido em nós por meio da experiência numinosa que estudou Jung.
Estamos acostumados a lidar com os nossos sentidos pelos mecanismos instintivos que até agora dominam a paisagem do nosso comportamento.
As sensações são relegadas a planos secundários, os sentimentos ficam escondidos no ser e o pensamento somente é utilizado para sobrevivência e para lidar com as coisas objetivas.
Nada disso em realidade é tão simplório assim. Todo mecanismo de percepção do espírito, seja no campo sensório, no campo sentimental, no campo no pensamento ou no campo da intuição profunda, é verdadeira alavanca de percepção de Deus na existência.
Ainda somos criaturas buscando interpretar a realidade e não sentindo a realidade, mas somos convidados a ver a realidade face a face.
Esse é um dos objetivos de se produzir um sentido maior em nossas vidas.
O indivíduo, portanto, vive para se tornar um ser cada vez mais feliz, experimentando o prazer de se construir, de se melhorar, de se elevar.
É nesse ponto que a ideia do sentido existencial fica cada vez mais concreta e praticada e assim o ser se torna um ser consciencial.
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[1] FRANKL, V. A questão de sentido em psicoterapia. Campinas: Papirus, 1990, p. 45
[2] Ibidem, p. 55
[3] Ibidem, p. 58
[4] FRANKL, V. Um sentido para a vida. Aparecida-SP: Editora Santuário, 2000 p.76
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