Albert Einstein, em seu livro Out of my later years, no artigo “Cosmic religion”, aborda que existe um nível de religião mais elevado, que ele denominou de cósmica.
O primeiro nível ele denominou de religião do medo, no qual a humanidade teme a Deus e lhe rende culto para ser protegida das atribulações da vida e por medo da punição. O segundo nível Einstein denominou de religião da angústia, totalmente manipulada pela casta sacerdotal, que teria poderes de intervir junto a Deus para libertar as pessoas das angústias sociais.
Vejamos como são as características da religião cósmica segundo Albert Einstein:
[…] Dou a isto o nome de religiosidade cósmica e é muito difícil transmitir este sentimento a alguém completamente desprovido dele, especialmente porque não lhe corresponde qualquer concepção antropomórfica de Deus.
[…] Os gênios religiosos de todos os tempos distinguiram-se por possuírem este senso de religiosidade cósmica, que não reconhece nenhum dogma nem nenhum Deus concebido à imagem do homem; por isso nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Logo, é precisamente entre os denominados heréticos de todos os tempos que encontramos homens que foram inspirados por essa elevada experiência religiosa e que foram olhados em muitos casos pelos seus contemporâneos como ateus, por vezes também como santos. Por este ângulo, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Spinoza se assemelham.
Como pode o sentimento religioso cósmico ser comunicado de uma pessoa a outra se não conduz a nenhuma noção definida de Deus e a nenhuma teologia? Na minha perspectiva, a função mais importante da arte e da ciência consiste em despertar e manter vivo este sentimento em todos os que sejam receptivos a ele.
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Chegamos deste modo a uma concepção da relação entre ciência e religião muito diferente da concepção habitual. Quando consideramos o assunto de um ponto de vista histórico, somos levados a olhar para a ciência e para a religião como antagonistas irreconciliáveis e por razões bastante óbvias. O homem que está profundamente convencido da função universal da lei da causalidade não pode em situação alguma considerar a ideia de um Ser que interfere no curso dos acontecimentos. Nem tampouco ter espaço para uma religião do medo, nem mesmo para uma religião social ou moral que o aprisiona. De modo algum pode conceber um Deus que recompensa e castiga, já que o homem age segundo leis rigorosas internas e externas. […] Por este motivo, a ciência foi acusada de prejudicar a moral, contudo isso é um equívoco. E como o comportamento moral do homem se fundamenta eficazmente sobre a simpatia ou os compromissos sociais, de modo algum implica uma base religiosa. A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.
É, portanto, fácil de ver por que razão as igrejas sempre lutaram contra a ciência e perseguiram os cientistas. Por outro lado, defendo que o sentimento religioso cósmico é o motivo mais forte e mais nobre para prosseguir a investigação científica […] Um contemporâneo disse, não sem razão, que na nossa era materialista os trabalhadores científicos sérios são as únicas pessoas profundamente religiosas.[1] (grifos nossos)
Brilhante e muito atual a dissertação de Einstein. É urgente que o paradigma teológico-dogmático seja ressignificado, pois, diante dos avanços científicos, é impossível continuarmos a fazer com que dogmas religiosos, destituídos de qualquer base lógica, sejam colocados como verdades e impostos a todos, inclusive aos cientistas que estão demonstrando que as questões espirituais descobertas pela ciência não são dogmáticas, e sim universalistas.
Isso faz com que muitos cientistas se distanciem da religiosidade, da espiritualidade e da religião, crendo não ser possível uma abordagem espiritual sem dogmas.
A concepção de religiosidade da Psicologia Consciencial se coaduna totalmente com a concepção de religião cósmica de Albert Einstein, porquanto refletimos a necessidade de conectar com Deus de uma forma cósmica não dogmática, sem intermediários, no qual o próprio indivíduo se conecta diretamente ao Criador na vertical da vida e não de forma horizontalidade dependente de sacerdotes e líderes religiosos.