A CONSCIÊNCIA, O CÓDIGO MORAL DE LEIS E A PRÁTICA DAS VIRTUDES – 2ª. PARTE
Em nosso artigo anterior iniciamos a refletir sobre a consciência na abordagem da Psicologia Consciencial. Neste artigo continuaremos a refletir sobre a consciência e o código moral de leis.
No decorrer da vida o indivíduo, por meio da personalidade transitória, acredita ser o que os aspectos exteriores lhe mostram, mas em realidade ele é exatamente tudo o que é sem o cérebro, sem a matéria, ele é espírito, momentaneamente vivenciando uma personalidade, e é esse o ponto que na visão da Psicologia Consciencial vamos muito além da visão dogmática e materialista vigente na ciência, ainda hoje, fato que explica uma série de fenômenos não explicados, como o das crianças prodígios comentado no artigo anterior.
O criador da logoterapia, Viktor Frankl já no século passado afirmava ser espiritual a consciência. Reflitamos sobre algumas afirmações do grande médico psiquiatra austríaco, extraídas dos livros Logoterapia e Análise Existencial e A Presença Ignorada de Deus:
Em síntese, a consciência é um órgão de sentido. Ela poderia ser definida como a capacidade de procurar e descobrir o sentido único e exclusivo oculto em cada situação.[1]
[…] A liberdade da vontade do ser humano é, portanto, a liberdade “de” ser impulsionado “para” ser responsável, para ter consciência.
Esse fato em seu duplo aspecto foi expresso talvez da melhor maneira possível por uma frase simples e imperativa de Maria von Ebner-Eschenbach: “Sê senhor da tua vontade e servo da tua consciência”. E partiremos dessa frase, dessa exigência ética, para esclarecer aquilo que designamos transcendência da consciência. Nossas reflexões desenvolvem-se da seguinte maneira:
“Se senhor da tua vontade…” Bom, sou senhor da minha vontade pelo fato de ser pessoa, contanto que entenda corretamente esse meu ser-pessoa, que é ser livre e plenamente responsável. Se, além disso, devo ser “servo da minha consciência”, e para que possa sê-lo, essa consciência deve então ser algo superior à pessoa a qual apenas ouve a “voz da consciência”, deve ser algo extra-humano. Em outras palavras, só posso ser servo da minha consciência, se, na minha autocompreensão, entender a consciência como um fenômeno que transcende minha mera condição humana e, consequentemente, compreender a mim mesmo, a minha existência, a partir da transcendência. Assim, não poderíamos conceber o fenômeno da consciência apenas na sua facticidade psicológica, mas na sua transcendentalidade essencial. Na realidade, só posso ser “servo da minha consciência” quando o diálogo, com minha consciência for um diálogo verdadeiro, mais que simples monólogo, quando minha consciência for mais do que meu eu, quando for porta-voz de algo distinto de mim.
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[…] Só a consciência moral consegue, por assim dizer, eleger a lei moral ‘eterna’, universal e concebida, com vistas à situação respectiva concreta de uma pessoa concreta. Assim, a consciência moral se revela como uma função essencialmente intuitiva.[2]
[…] Já dissemos que a consciência é a voz da transcendência e por isso ela mesma é transcendente. O ser humano irreligioso, portanto, é aquele que ignora essa transcendência da consciência. Com efeito, também o ser humano irreligioso “tem” consciência, assim como responsabilidade; apenas ele não questiona além, não pergunta pelo que é responsável, nem de onde provém sua consciência.
[…] Existem, portanto, situações nas quais a pessoa está colocada diante de uma opção de valores, diante da opção entre princípios mutuamente contraditórios. Para não optar de forma arbitrária, a pessoa dependerá novamente da sua consciência, sendo que exclusivamente a consciência a capacita a tomar uma decisão livre, mas não arbitrária, e sim responsável. Sem dúvida, a própria pessoa naturalmente continua livre perante a consciência; mas essa liberdade consiste única e exclusivamente na opção entre duas possibilidades: a de dar ouvidos à consciência ou de rejeitar sua advertência. [3](grifos nossos)
Brilhantes as reflexões que Viktor Frankl nos proporciona ao abordar a transcendência da consciência como sendo maior do que o nosso eu, ou seja, a nossa personalidade transitória. A consciência é superior à pessoa porque a personalidade é um instrumento que o espírito utiliza para evoluir nas experiências corpóreas e a consciência é um atributo imaterial e indestrutível do Ser Essencial, que permanece com o ser humano, tanto dentro quanto fora do corpo. Ela é um atributo do espírito em sua essência mais íntima.
É na consciência que está ínsita a lei moral, eterna e universal, como colocado por Viktor Frankl. As pessoas que cultivam a religiosidade, ou seja, aquelas que têm o hábito de se conectar com a própria Essência divina e com Deus não ignoram a transcendência da consciência, já aqueles que reprimem a religiosidade não sabem o motivo da trazerem uma consciência moral, fato que não os torna menos responsáveis pelos seus atos, como brilhantemente conclui Frankl.
A partir do pensamento de Viktor Frankl e de nossas experiências como médico homeopata e psicoterapeuta consciencial podemos dizer que a consciência é eminentemente um atributo intelecto-moral do espírito. Por isso, podemos fazer uma analogia com o código genético existente no interior do núcleo das células e postular a existência de um código moral de leis no núcleo da consciência. Esse código moral tem a ver com o cumprimento ou descumprimento das leis morais ligadas às virtudes, dar ouvido à consciência ou rejeitar sua advertência, como diz Viktor Frankl.
Não há uma analogia no aspecto do funcionamento e da estrutura do DNA, pois este rege o funcionamento material das células, mas sim no aspecto da natureza de que há um princípio ordenador de tudo. O DNA exerce a sua função por meio de leis biológicas, já a consciência funciona por meio de leis de caráter moral.
O código moral está ínsito na consciência para que o indivíduo seja apresentado à verdade, de modo que cumpra as leis. A verdade deve emanar na consciência o tempo todo para que o indivíduo possa aferir se está cumprindo as leis morais ou não.
Postulamos não somente a existência do código moral, mas também a imortalidade do espírito e a sua evolução, que acontece em várias existências sucessivas, conduzida por esse código da consciência, em sintonia com as leis morais do Universo, por meio das quais o indivíduo jamais ficará isento de se autoaprimorar, compreendendo, gradualmente, a sua finalidade maior no Universo. Esse aprimoramento acontecerá por meio do exercício das virtudes.
Há um sentido existencial profundo na vida. O grande propósito da vida é que evoluamos, tanto intelecto quanto moralmente. Para isso, periodicamente ocupamos uma personalidade transitória, ou seja, reencarnamos, para fazer esforços de sintonizar com o código moral de leis por meio do exercício de virtudes, responsabilizando-nos por seguir a voz da consciência.
O movimento proativo do exercício das virtudes faz com que a pessoa se conecte cada vez mais com o código moral e esteja mais consciente de si e do mundo ao seu redor e isso vai gerar um prazer intrínseco do espírito, momentaneamente circunscrito na personalidade transitória, se estabelecer no mundo, produzindo sentido para si mesmo e para o mundo.
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[1] Frankl, Viktor – A ignorada presença de Deus. Petrópolis: Vozes. 2016
[2] Frankl, Viktor – Logoterapia e Análise Existencial. São Paulo: Forense Universitária. 2012
[3] Frankl, Viktor – A ignorada presença de Deus. Petrópolis: Vozes. 2016
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