Como as perdas pode causar depressão
Neste artigo, refletiremos sobre a relação entre as perdas e a depressão.
As perdas, em nossa cultura, são fatores intimamente ligados à depressão.
A psiquiatria classifica a depressão motivada pelas perdas como reativa ou secundária devido a fatores exógenos, diferente da depressão primária, na qual os fatores são endógenos.
Podem acontecer em várias áreas, tais como: perda de um ente querido, perdas financeiras e de posição social, afetivas, frustrações amorosas, desemprego, divórcio, aposentadoria e menopausa, dentre outras situações nas quais a pessoa é convidada a uma mudança em relação ao estado anterior.
Para muitas pessoas, essas mudanças são vistas como perdas de algo essencial, o que as leva a se deprimirem.
Devido à tendência a se revoltar, a pessoa com propensão à depressão não aceita a perda, gerando como consequência a depressão.
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Percebamos que novamente está presente a rebeldia nessa inaceitação, fato que nos leva a poder dizer que os fatores exógenos (as perdas) nada mais são do que fatores desencadeantes da rebeldia já existente, mas que aumenta de intensidade nesses momentos, o que gerará a depressão reativa.
Diante das perdas, temos sempre duas escolhas: a aceitação ou a não aceitação da perda inevitável.
Quando a pessoa está movida pelo apego, ela não aceita a perda, entrando em desespero por ver o pior lado.
A pessoa se recusa a aprender a lição que a vida a está convidando a passar.
Então, quando uma pessoa perde alguma coisa, está sendo convidada aos testes de desprendimento.
Mas, devido ao apego sistematicamente cultuado, pode experienciar um estado íntimo de profunda depressão, abatimento do ânimo, em um movimento de desistência da vida, de enfraquecimento das forças que pode variar, dependendo da pessoa, de alguns meses, até 2 ou 3 anos, até que ela possa superar essa sensação marcante da perda.
Algumas pessoas nunca mais se recuperam depois de uma perda.
Exemplifiquemos abordando uma das situações que geram as maiores perdas: a de entes queridos, pela morte.
Todos sabemos que os relacionamentos na vida material são transitórios, impermanentes, devido à própria condição da vida no corpo.
Mesmo assim, apegamo-nos a esses relacionamentos transitórios, como se fossem permanentes.
Isso é tão forte que o apego passou a significar amor.
Diz-se comumente: Fulana é tão apegada ao beltrano… Como eles se amam.
Se pararmos para refletir, o que gera o apego à relação transitória é a ignorância.
Existem três níveis de ignorância: a do não saber, a do não sentir e a do não vivenciar a verdade.
As pessoas que não sabem que a vida no corpo não é a vida real, que é apenas um reflexo da vida espiritual, sofrem muito com aquilo que sabem ser inevitável, que é a morte de um ente querido.
Elas acreditam que, ao morrer, tudo acaba e por isso se apegam intensamente ao transitório, à relação física que tem com o ser querido.
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Muitos nessa situação entram em depressão intensa.
Aquelas que são espiritualistas, que já superaram a ignorância do não saber e já sabem que a verdadeira vida é a espiritual, e que a morte não é o fim da vida, mas o fazem apenas racionalmente – pois não superaram a ignorância do não sentir –, sabem dessa realidade, mas não a sentem.
A mente está distante do coração.
Elas continuam apegadas ao transitório, pois não basta saber: é necessário sentir que a vida não termina com a morte do corpo, e que as ligações de pessoa a pessoa são espirituais, baseada em elos de amor, e não de corpos.
Por isso, apesar de aceitarem a vida após a morte, muitas entram em depressão devido ao apego à convivência e aos corpos dos entes queridos que não existem mais, apesar de saberem que eles continuam existindo fora do corpo.
Essa ignorância só pode ser superada com o amadurecimento espiritual e com muitos exercícios de amor, aceitação, mansidão e humildade de coração, isto é, fazendo exercícios para sentir essas virtudes.
Aqueles que já sabem e sentem que a vida é espiritual e que os relacionamentos são baseados em elos de amor indestrutíveis com a morte do corpo conseguem vivenciar o desprendimento amoroso.
Quando passam pela prova da morte de um ente querido, apesar de sentirem a dor causada pela perda do contato direto com aquele ser, não sofrem, pois o desprendimento as libera do sofrimento.
Ao superarem a ignorância do não saber e do não sentir, superam também a ignorância do não vivenciar a verdade, e passam a vivenciar plenamente a vida em seu aspecto real que é o espiritual, o transcendente, sabendo e sentindo que tudo que se dá enquanto estamos encarnados no mundo é transitório, sendo parte importante da vida, mas não é a vida em si mesma.
Uma pessoa dócil, que cultiva a mansidão e a humildade de coração, diante de uma perda, irá aceitá-la e não entrará em depressão.
Se construirmos um relacionamento baseado no desprendimento amoroso, estaremos usufruindo esse relacionamento dentro da impermanência que caracteriza qualquer relacionamento.
É esse o convite da vida.
Mas, lamentavelmente, poucos são os que aceitam esse convite.
A mesma reflexão que fizemos com relação à “perda” de entes queridos – que, na verdade, não é uma perda, mas uma transformação – serve para outras perdas como a financeira, a de posição social etc.
Se as recebermos com rebeldia, iremos nos desesperar e fatalmente entraremos em depressão.
Se as encararmos como convites para reflexão e transformação, passaremos pela dor natural da perda, mas logo a superaremos, pois exercitaremos o amor à vida e às questões essenciais da vida.
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