Espiritualidade, Religiosidade Intrínseca e as Virtudes
Neste artigo, vamos refletir sobre a importância da espiritualidade, da religiosidade intrínseca na prática das virtudes.
Na religiosidade intrínseca a pessoa busca sentir Deus por meio da sua espiritualidade.
O seu movimento é interior, no qual a religião ocupa um papel central na vida da pessoa, que utiliza a religiosidade de modo construtivo.
Tem a ver com a prática de virtudes como a aceitação, a compaixão, a humildade, a serenidade, a alegria de viver, sobretudo a fé intrínseca etc.
Ainda há uma ideia de que o ser humano tem fé ou não, como se fosse algo que alguns ganharam e outros não.
Essa é uma visão teológico-dogmática de fé.
No âmbito da Psicologia Consciencial, trabalhamos a fé em uma visão não religiosa, não teológica.
A fé nesse âmbito é uma virtude passível de ser desenvolvida por meio de reflexões e exercícios constantes.
Ao longo dos séculos, a visão teológica da fé foi instituída como algo que a criatura é obrigada a sentir pelo Criador.
Isso não é um processo natural, pois, nessa abordagem dogmática, a fé é construída por imposição, porque está atrelada à perspectiva de um Deus que pode puni-la e não um Deus que a ama.
Esse pensamento é próprio na religiosidade extrínseca, no qual Deus está distanciado da criatura.
A religiosidade intrínseca está de acordo com a proposta de Jesus em João 4:21, 23 e 24 no qual o Cristo ensina que haveria um tempo que estaríamos libertos de adorar a Deus em templos ou qualquer outro lugar específico. Vejamos.
Crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
Jesus ensina claramente que haveria um tempo que adoraríamos a Deus não em um templo específico, mas em espírito e verdade, ou seja, de forma muitíssimo pessoal em nossa intimidade, por meio de uma fé intrínseca liberta de todos os dogmas teológicos.
É dessa forma que a Psicologia Consciencial trabalha, ou seja, fortalecendo no indivíduo a religiosidade e a fé intrínseca.
A fé é uma virtude a ser desenvolvida e jamais imposta de forma dogmática.
Para ser compreendida em seu aspecto intrínseco, a fé é fruto do relacionamento do indivíduo com o Criador, no qual ele se sente natureza e não apenas parte da natureza e, por isso, está integrado como uma obra verdadeiramente elaborada, criado para oferecer ao Universo as manifestações morais em plenitude.
A fé intrínseca está relacionada a nossa condição de sermos criaturas de Deus.
A fé convicta é o processo que vai se construindo pela energia essencial da fé intrínseca.
O desenvolvimento da fé convicta passa pela compreensão da lei de liberdade.
O ser humano, espírito imortal momentaneamente vivendo em um corpo, é livre para amar a Deus, livre para se sentir filho de Deus e é convidado a superar o sentimento de obrigação embutida nas mais variadas formas que as religiões lhe imprimiu nos sentimentos.
Dizemos religião, não no seu sentido amplo e adequado, mas do controle religioso feito pelos religiosos dogmáticos.
Tudo que existe no Universo no que tange às leis naturais e tudo que é obra de Deus nos demonstra que Deus nos ama e nos protege.
Entretanto, o medo embutido nos sentimentos, devido aos dogmas religiosos, faz com que o indivíduo nem se permita se sentir livre para amar o Deus amoroso que o criou, porquanto traz impresso na sua mente um Deus teológico que se deve temer e crer por obrigação para se livrar das punições divinas.
Por exemplo, na visão teológica da reparação existe uma perspectiva de um Deus que perdoa desde que o indivíduo se arrependa e se entregue à sua vontade, que o fica aguardando assumir o erro e penitencie-se para depois ser aceito entre os eleitos.
Percebamos que existe uma visão de um Deus que fica aguardando que o indivíduo faça algo para ser agradável a Ele.
Na perspectiva da fé intrínseca, em uma abordagem psicológica consciencial, não há essa visão de Deus aguardando a pessoa acertar para agradá-lo.
Ela mesma se sente intimamente ligada às forças supremas da natureza e considera a possibilidade de reparar os erros como um fenômeno natural.
Não é Deus em si, no aspecto humanizado que a aguarda; é o próprio ciclo da vida que a convida, consciencialmente, a se arrepender e reparar, pois ela está intimamente ligada com os mecanismos naturais.
Portanto, quando o indivíduo se equivoca, por se sentir um aprendiz da vida que traz na própria consciência o código moral de leis sabe que pode aprender com o erro e repará-lo, quantas vezes forem necessárias.
Quando o indivíduo se sente verdadeiramente seguro, porque ama realmente a Deus e se sente amado por Ele, os acontecimentos e os seus atos não fazem referência a processos de julgamento e punição, mas endereçam ao Criador uma intensa corrente de amor que brota do próprio coração e se entrega aos desígnios de Deus também por amor.
Então, o indivíduo se sente impulsionado pela própria natureza da vontade de Deus, que o ama de maneira tão profunda que é para ele um enorme prazer perceber como agiu, e se a sua ação foi em dissonância com o código moral, que traz ínsito em si, ele mesmo sente, cedo ou tarde, vontade de se melhorar conectando as suas ações com o código.
Vejamos que na visão teológica de fé existe uma dicotomia entre Deus e o indivíduo, na qual está embutido um processo do servilismo, em que ele tem que se submeter para agradar a Deus para não ser punido.
No âmbito da Psicologia Consciencial, a fé é uma virtude a ser desenvolvida, porquanto a pessoa é estimulada a se aproximar de Deus por livre e espontânea vontade, por meio da conexão com o código moral.
Portanto, a fé é uma virtude fundamental a ser trabalhada da psicoterapia consciencial, dentro dessa concepção não teológica, de modo a auxiliar o cliente a entrar se conectar intrinsecamente com Deus, de modo a senti-lo no coração.
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