Saiba como o sentido existencial impacta a sua vida
Neste artigo sobre Psicologia Consciencial refletiremos sobre o sentido existencial e a importância dele para a sua vida.
Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me. (Mateus 16:24)
O Universo é regido por leis criadas pelo Arquétipo Primordial para o seu funcionamento harmonioso.
É da vontade de Deus que conheçamos o funcionamento dessas leis e as pratiquemos dando um sentido existencial às nossas vidas.
Temos as leis físicas, biológicas e as morais.
Se entendermos que o ser humano deve buscar um sentido, esse sentido estaria teoricamente em algum lugar, e não é isso que acontece.
É fundamental que saibamos que nós somos o sentido do Universo.
Portanto, o espírito é o sentido do Universo, mas, para manifestar esse sentido, ele é convidado a buscar o código moral de leis e trabalhar dentro de si mesmo o relacionamento desse código moral que inter-relaciona a consciência com as leis morais.
Quanto mais nos voltamos para o código moral, mais estamos produzindo sentido profundo em nossa vida.
O símbolo da cruz utilizado por Jesus no versículo acima é muito significativo, pois nela existe uma trave vertical e uma horizontal.
Tomar sob nós a nossa cruz significa, simbolicamente, buscar cumprir um plano existencial que trazemos para realizar quando reencarnamos no mundo, composto de propósito existencial cujos valores são verticais e do programa existencial cujos valores são horizontais em sintonia com os valores verticais.
O ato de renunciar a si mesmo simboliza os esforços de sublimação do ego.
Não é um movimento de negação das limitações, pois isso levaria às pseudovirtudes, mas sim de não dar valor àquilo que é ausência de valor.
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O ego é ausência de valores essenciais, por isso renunciar a si mesmo é reconhecer o não valor do ego para buscar produzir os valores reais, os valores do Ser Essencial que somos.
Quando tomamos a nossa cruz, renunciando a dar vazão aos desejos egoicos, de modo a sintonizar a personalidade transitória com os valores essenciais, cumpriremos adequadamente o nosso plano existencial.
No indivíduo, existe a força do significado da vontade de Deus.
Essa vontade emana ininterruptamente em todos os átomos da criação, contudo somente o espírito pode interpretá-la e direcioná-la, gerando significado para o progresso do Universo.
Cada ser humano guarda no código moral de leis a informação do cumprimento da vontade de Deus, estando intrínseco nele mesmo o impulso para o cumprimento dessa vontade.
Esse impulso provém da força endoevolutiva, que emite uma energia que convida o indivíduo a produzir sentido existencial, cumprindo a vontade de Deus pela identificação da personalidade transitória com o Ser Essencial.
Tudo quanto o indivíduo realize produz efeitos morais.
Quando a personalidade está identificada com o Ser Essencial, passa a se conectar com o sentido da vontade de Deus, de modo a produzir um sentido existencial gerador de plenificação.
Ao contrário, quando a personalidade está identificada com o ego, os efeitos morais não alcançam a profunda realização e ele, então, se afasta do sentido, produzindo o vazio existencial.
Quando o indivíduo utiliza o conhecimento de si mesmo e aciona o seu plano existencial, ele compreende que a produção do sentido está intimamente ligada à força endoevolutiva proveniente da lei de evolução, que já o programou para o cumprimento de propósitos sublimes.
Sendo assim, a maneira como o indivíduo pode compreender esse sentido profundo é reconhecendo que as manifestações morais existem no Universo porque existem os espíritos e é neles que acontece a produção, a emanação e o cumprimento do sentido.
Produção: primeiramente, somos convidados a utilizar a nossa liberdade de escolha, com base no exercício da virtude do discernimento, para produzir sentido.
A produção do sentido é feita pela conexão com a força endoevolutiva por meio da força autoevolutiva, ou seja, da força de vontade para nos conectar com o propósito existencial.
A produção de sentido acontece por um processo de conexão na vertical da vida quando o indivíduo se identifica com a vontade do Arquétipo Existencial e a vontade intrínseca que existe em si mesmo, como Ser Essencial, de evoluir em direção à plenificação.
Emanação: uma vez que nós identificamos com a produção de sentido, por meio da conexão com o propósito existencial, passamos a emanar o sentido, ou seja, externar a realização do propósito existencial por meio do programa existencial, de modo que façamos diferença positiva no mundo onde vivemos.
É pela emanação de sentido que direcionamos na horizontalidade aquilo que conquistamos na verticalidade, pois, quanto mais se cumpre o código moral de leis por meio do desenvolvimento das virtudes, mas o indivíduo irá contribuir com a comunidade em que vive, tornando-se alguém que está sempre fazendo esforços para emanar compaixão para outros seres, realizando o programa que todos trazemos de sermos pessoas melhores com o intuito de aprimorar o mundo em que vivemos.
Cumprimento: o cumprimento do sentido é resultante da junção da produção e da emanação, ou seja, a união da verticalidade com a horizontalidade, de modo que possamos cumprir o plano existencial de melhorarmos a nossa intimidade e, ao mesmo tempo, realizar algo positivo para as pessoas à nossa volta.
Um indivíduo que produz e emana sentido dentro de si é um cidadão consciente de seus deveres e direitos, alguém que cumpre o sentido, desenvolvendo a sua inteligência consciencial plenamente, e é claro que, quanto mais inteligente consciencialmente ele for, mais se torna um cidadão de bem, lúcido e pleno consigo mesmo e com as demais pessoas.
Portanto, quando o indivíduo compreende isso, ele reconhece que foi criado para produzir uma qualidade única de sentido no universo baseada no código moral de leis, realizando a chamada individuação.
Somos convidados a assumir a nossa individuação, realizando esforços continuados, pacientes, perseverantes e disciplinados para produzir sentido.
Em suas obras, Viktor Frankl aborda a importância da busca do sentido inúmeras vezes. Vejamos algumas de suas citações:
O homem é um ser à procura de sentido. Na busca do sentido só a consciência o ajuda. Assim se pode, pois, definir o órgão de sentido nele ‘embutido’. Ele ilumina a respectiva possibilidade de sentido subjacente à realidade, e torna transparente a realidade em relação à possibilidade de sentido.[1]
[…]
Nós vimos que sempre e em toda parte há um sentido. Todavia apenas no sentido de um sentido particular, como nós o podemos experimentar através da nossa ‘vontade de sentido’ e graças aos nossos ‘órgãos de sentido’, a saber, da consciência. No que toca a esta nossa vontade de sentido, ela é indispensável, nós não podemos nada além de ‘querer sentido’, a vontade de sentido é nesta acepção transcendental e algo a priori (Kant) ou existencial (Heidegger), ela está tão arraigada na condition humaine (condição humana), que nós não podemos nos abster de ‘procurar sentido’ até que nós creiamos tê-lo encontrado.[2]
[…]
E se a logoterapia não concebe da mesma forma o fenômeno desta fé como crença em Deus, mas concebe-a como uma mais ampla crença no sentido, então é inteiramente legítimo que ela não se ocupe apenas com a ‘vontade de sentido’, mas também com a vontade de um sentido último, um supersentido. A fé religiosa é no fim uma crença no supersentido – pelo menos Lugwig Wittgenstein oferece-nos a seguinte informação: “Crer em Deus significa ver que a vida tem um sentido”.[3]
[…]
Em virtude da autotranscedência da existência humana o homem é um ser em busca de sentido. Ele é dominado pela vontade de sentido. Hoje, contudo, a vontade de sentido está frustrada. Cada vez mais os pacientes voltam a nós psiquiatras queixando-se de sentimentos de falta de sentido e de vazio, de uma sensação de futilidade e de absurdo. São vítimas da neurose de massa de hoje. […] Fenômenos de dimensões mundiais tais como a violência e as drogas, ou taxas impressionantes de suicídio, particularmente entre a juventude universitária, são alguns sintomas desses sentimentos[4].
A visão de sentido a que se refere Viktor Frankl é muito próxima da que postulamos na Psicologia Consciencial, pois o psiquiatra vienense vincula diretamente a busca de sentido à consciência, que ele chega a chamar de “órgão de sentido”, bem como a coloca como algo transcendente no ser humano, que a traz arraigada em sua condição humana.
Essa concepção vai ao encontro da visão que temos da força endoevolutiva, a força intrínseca de Deus ínsita em nós a nos convidar a buscar o sentido existencial, de modo que conquistemos a plenitude existencial.
Todos buscamos esse sentido último ou supersentido, conforme postula Frankl.
A afirmação de Viktor Frankl de que: cada vez mais os pacientes queixam-se de sentimentos de falta de sentido e de vazio, de uma sensação de futilidade e de absurdo é ainda mais válida em nossos dias do que no século passado.
O vazio existencial tem tomado conta das pessoas na atualidade, levando-as em muitos casos à depressão, às drogas, ao alcoolismo e, principalmente, ao suicídio.
É por meio do sentido da vida como algo intrínseco e transcendente existente no espírito, no ser imperecível que se pode sentir realmente porque o ser humano vive em busca de sentido, mas não necessariamente compreende essa busca.
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Existe o potencial ínsito, mas, se não houver a informação, o esclarecimento saudável, o que é ínsito não consegue alcançar os parâmetros da compreensão lógica.
Esse foi o papel pioneiro da logoterapia de Viktor Frankl e é a principal função da Psicologia Consciencial: auxiliar as pessoas a se esclarecerem sobre o real sentido da vida por meio da reflexão da existência do plano existencial, que transcende toda e qualquer questão material.
O conhecimento da imortalidade e dos processos ligados às leis criadas pelo Arquétipo Primordial, como a lei da reencarnação, uma lei biológica, com finalidade de aperfeiçoamento moral, oferece, portanto, ao ser humano a junção desses dois fatores: o processo intuitivo da busca do sentido que provém da força endoevolutiva, em conjunto com as explicações lógicas de como tudo funciona no interior do indivíduo dão sentido a essa intuição.
Viktor Frankl aborda a intuição desse sentido ínsito no ser, a busca natural e inerente, que ele denominou de sentido último ou supersentido.
Contudo, a lógica da Psicologia Consciencial afirma e complementa com os parâmetros da existência de leis criadas por Deus para organizar o Universo, leis físicas, biológicas e morais que trazem a ideia da imortalidade e de uma finalidade maior para a vida transitória no corpo físico, direcionando o ser humano em se responsabilizar por sua vida, construindo um sentido profundo e transcendente.
Como afirmou Viktor Frankl no texto acima, as queixas mais frequentes dos pacientes nos consultórios dos psiquiatras e psicólogos são de sentimentos de falta de sentido e de vazio interior.
Hoje em dia, essa condição tem alcançado uma quantidade ainda maior de pessoas do que na época em que ele escreveu esse texto.
Muitas pessoas têm feito perguntas ao longo da trajetória evolutiva da humanidade, especialmente na atualidade, tais como:
Qual a finalidade da existência?
Existe um sentido nisso tudo?
Prosseguir a vida para quê?
Essas e outras perguntas existenciais têm sido formuladas por milhões de pessoas pelo mundo a fora.
Muitas afirmam que nada faz sentido, daí o aumento assustador da depressão e do suicídio.
As ciências em geral, e a psicologia tradicional em particular, bem como a filosofia, não têm auxiliado de uma forma eficiente as pessoas a responderem a essas perguntas.
A Psicologia Consciencial auxilia-nos a responder a essas perguntas com base em argumentos lógicos, ajudando o ser humano a encontrar o seu sentido último, ou seja, um sentido que não se trata de um sentido no âmbito do fazer apenas, mas um sentido do se tornar alguém que compreende a finalidade maior da vida, sabendo que há um plano existencial que transcende as questões materiais e que a efetivação de tal plano o conduzirá à felicidade.
A Psicologia Consciencial afirma que o sentido do se tornar pleno é muito mais influente na construção do sentido da vida, porque a vida impulsiona várias possibilidades para a felicidade e que isso não está naquilo que se faz, mas no que significa aquilo que se faz e, principalmente, no que o indivíduo se torna a partir de tudo o que faz.
Quando isso fica compreensível, o ser, então, estabelece uma relação com a sua dimensão essencial, porque o tornar-se é resultado do autoconhecimento que visa à autotransformação, de modo que o indivíduo se autoilumine, ascendendo na vertical da vida.
Por mais que se faça algo, esse algo pode não ser possível de ser feito em algum momento, mas, quando se foca no ser, ele se estende ao infinito, pois o ser é atemporal.
Exemplificando, suponhamos que alguém busque significado em uma profissão como a de médico, e isso o preencha de significado enorme, fazendo com que a pessoa sinta muita alegria com a sua atuação.
Pode ser que em determinado momento não lhe seja possível exercer essa atividade, por causa de uma doença específica ou aposentadoria, por exemplo.
O que pode vir a acontecer?
Duas coisas em termos gerais: ressignificar e buscar um outro modo de ação ou o indivíduo entrar em um estado depressivo por não ter a ocupação que lhe dava sentido.
Entretanto, se tudo quanto ele realizou foi muito mais do que ele fez, foi o que ele se tornou com as suas atividades como médico, quando não puder mais exercer essa profissão estará feliz da mesma forma por ter feito a diferença positiva para a comunidade na qual serviu, tornando-se uma pessoa melhor pelo esforço para cumprir o código moral de leis, exercitando as virtudes em cada ato praticado na profissão e fora dela.
Ele reconhece tudo o que se tornou e desfruta disso, ampliando isso nos sentimentos.
Portanto, não é o fato circunstancial que vai interferir numa questão que é existencial.
O sentido, dessa forma, é plenamente existencial.
O sentido existencial é resultante daquilo que sentimos em nós mesmos.
Se nós nos sentimos tranquilos, serenos, alegres por nos tornar cada vez mais plenificados, sentir-nos-emos inteiramente senhores de nós mesmos, porque sabemos que essa alegria é advinda de tudo quanto nos decidimos nos tornar enquanto praticávamos várias e várias ações para o desenvolvimento de nossa plenificação.
Sabemos que essa reflexão ainda é complexa para muitas pessoas, porque tudo quanto se entende como alegria ou felicidade está no âmbito do que se faz, mas, meditando com profundidade, perceberemos um detalhe fundamental.
Quando realizamos algo, existem três questões: nós mesmos, aquilo que realizamos e o que resulta em nós daquilo que realizamos.
Nós somos os seres pensantes com sentimentos e vontade, em sintonia com o código moral de leis, praticando as virtudes essenciais; o que realizamos é o ato; e o que resulta do que realizamos é a transformação na qual o fluxo das leis morais pela prática das virtudes torna-se uma constante em nossa estrutura psicológica, formando um ser cada vez mais plenificado, mais realizado, porque está diante daquilo que foi se tornando enquanto realizava.
É nisso que consiste o indivíduo: poder desfrutar das oportunidades, aproveitando de cada ensejo da sua relação com a realidade exterior para consolidar a sua dimensão interior.
A visão de sentido existencial que ainda impera comumente está focada na emanação de sentido.
Na Psicologia Consciencial, encaramos a emanação de sentido, ou seja, buscar sentido fora de nós, como consequência de um aspecto maior que é a produção de sentido.
Não existe emanação verdadeira, em nível mais profundo, sem a produção de sentido que é interior.
A produção de sentido acontece quando buscamos um sentido que é individual e intransferível, pois ninguém pode fazer isso por nós.
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Tem a ver com o cumprimento do código moral de leis e a prática das virtudes.
As atividades exteriores qualquer pessoa pode fazer; já as interiores somente nós mesmos podemos realizá-las.
Em Lucas 17:20,21, Jesus ensina que: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está dentro de vós.
Essa orientação do Cristo nos remete à produção do sentido existencial.
Percebamos que, para estar dentro de alguém, é porque esse alguém experimenta o reino.
Nada está dentro de alguém que fique fora da experiência.
Foi exatamente essa uma das propostas terapêuticas de Jesus: o reino de Deus ou o reino dos céus está dentro de nós para que experimentemos esse reino, para que ele seja uma realidade vivida, experimentada não apenas do ponto de vista de uma ideia moral, mas de uma ideia concreta, vivida em nós mesmos.
O reino de Deus é sentido em nós por meio da experiência numinosa que estudou Jung.
Estamos acostumados a lidar com os nossos sentidos pelos mecanismos instintivos que até agora dominam a paisagem do nosso comportamento.
As sensações são relegadas a planos secundários, os sentimentos ficam escondidos no ser e o pensamento somente é utilizado para sobrevivência e para lidar com as coisas objetivas.
Nada disso em realidade é tão simplório assim.
Todo mecanismo de percepção do espírito, seja no campo sensório, no campo sentimental, no campo no pensamento ou no campo da intuição profunda, é verdadeira alavanca de percepção de Deus na existência.
Ainda somos criaturas buscando interpretar a realidade e não sentindo a realidade, mas somos convidados a ver a realidade face a face.
Esse é um dos objetivos de se produzir um sentido maior em nossas vidas.
O indivíduo, portanto, vive para se tornar um ser cada vez mais feliz, experimentando o prazer de se construir, de se melhorar, de se elevar.
É nesse ponto que a ideia do sentido existencial fica cada vez mais concreta e praticada e assim o ser se torna um ser consciencial.
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[1] FRANKL, V. A questão de sentido em psicoterapia. Campinas: Papirus, 1990, p. 45
[2] Ibidem, p. 55
[3] Ibidem, p. 58
[4] FRANKL, V. Um sentido para a vida. Aparecida-SP: Editora Santuário, 2000 p.76
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