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Impedimentos à produção de sentido existencial

Em nosso artigo anterior sobre Psicologia Consciencial iniciamos a refletir sobre os obstáculos à produção de sentido existencial. Neste continuaremos a refletir sobre o mesmo tema.

Vamos recorrer aos relatos do Dr. Joel Whitton no seu livro Vida – transição – vida: explorações científicas no tempo de transição entre uma encarnação e outra, para, com base no relato de seus clientes, entender melhor como funcionam as leis que trazemos no código moral em nossas consciências:

O impulso é essencial para a evolução pessoal. Sem ele não haveria aprendizado: não haveria nada que impulsionasse a alma através de miríades de experiências que surgem no curso de suas viagens de encarnação a encarnação. Esse impulso, esse ímpeto, é inteiramente autogerado e é expresso por uma palavra do sânscrito que se estabeleceu firmemente na língua inglesa: “karma”.

Karma é tudo que as pessoas puseram em prática para elas próprias enquanto passavam de uma vida a outra, devido às suas motivações, atitudes e comportamento. A aceitação do karma descarta a ideia de que os seres humanos são meros peões num jogo de xadrez cósmico. Aceitar o karma é reconhecer que o mundo é uma arena de justiça natural: não pode haver injustiça, desigualdade e infortúnio se todas as condições surgem como resultado direto da conduta passada. O karma acopla a autorresponsabilidade à lei de causa e efeito; as ações individuais de vida a vida dão forma e substância à continuidade pessoal e ao destino pessoal.

Tradicionalmente definido, o karma é um sistema de justiça retributiva que perpetua o renascimento e determina a forma de cada encarnação sucessiva. Os antigos pensavam que o karma era aplicado de acordo com a filosofia do “olho por olho” que afirma que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas experimentarão em si mesmas precisamente as alegrias e tristezas que criam para os outros. Mas, de acordo com os pacientes do Dr. Whitton, a vida não tem que funcionar dessa maneira. Aqueles que visitaram o bardo insistem que o karma é, essencialmente, aprendizado. É o princípio em funcionamento, em todas as coisas, que torna possível o desenvolvimento da alma. […] Certamente, o serviço é fundamental para o processo e a declaração “Quando você ajuda o próximo você se ajuda” surge como princípio básico da lei do karma. “Amai-vos uns aos outros” aconselhou Jesus Cristo. Não há melhor conselho para aqueles que buscam a maneira mais direta de reduzir a carga kármica.

Enquanto os textos hindus e budistas retratam a humanidade atada à roda de renascimento pelas amarras do karma, os pacientes do Dr. Whitton apresentam uma visão mais instrutiva dos trabalhos do karma. Retratam a raça humana inteira trabalhando numa sala de aula cósmica onde, no decorrer de muitas vidas, nos impomos lição após lição. Cada um de nós é tanto um aluno quanto um professor, e temos o poder, através das nossas ações, de dirigir nosso próprio curso de aprendizado.

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Obstáculos à produção de sentido existencial

Os padrões kármicos são formados como resultado dos esforços do espírito para aprimorar-se com desafios específicos. Esses padrões influenciam fortemente a escolha pessoal e o planejamento das encarnações subsequentes. No estágio entre as vidas, a alma revisa o seu desempenho através de muitas vidas e escolhe resolver ou reparar certas ações na vida seguinte. Embora os erros do passado sejam expostos à alma no bardo, a maioria dos ajustes kármicos só pode ser feita com a volta à existência física e o reencontro, em muitos casos, com aqueles com os quais o karma foi estabelecido.

[…]

Os próprios pacientes, quando transportados para o estágio entre as vidas, falam do karma como aquilo que criaram para si mesmos como um meio de refinarem as progressivamente as suas naturezas. Repetidamente eles em transe têm declarado que devem passar por certas experiências para purgar imperfeições e para adiantar o seu crescimento pessoal. A maneira segundo a qual essas experiências são conduzidas determinam quanto progresso é obtido e, caso não se dê o aprendizado, a situação deve se repetir.

[…]

O karma, a despeito de suas demandas e implicações, não deve ser considerado uma camisa de força do destino que nos força a agir de uma determinada maneira. A própria essência do karma implica a presença de um motivo, o qual, por sua vez, necessita do exercício do livre-arbítrio.

A evolução kármica envolve o desenvolvimento da personalidade e o aprimoramento de habilidades e talentos. […] O progresso é sempre determinado pela força de vontade.

Podemos afiançar que a nossa experiência profissional com a técnica da regressão de memória realizada com centenas de clientes ao longo de mais de 25 anos coincide com as conclusões do Dr. Joel Whitton sobre o objetivo da reencarnação como fonte de aprendizado para o espírito, que desenvolve gradualmente as virtudes, valores e aptidões em vidas sucessivas solidárias umas com as outras.
Portanto, o conhecimento dessas verdades espirituais é fundamental para desenvolver as virtudes, especialmente o amor, apesar de ser um primeiro passo. Se a pessoa não tem conhecimento dessas verdades, irá se sentir um monstro, como Roberta (vide artigo anterior). Algumas mães entram em conflitos enormes, quando sentem aversão pelos seus filhos. Por isso, algumas delas os abandonam até em latas de lixo, ou mesmo os enterram vivos. Outras os matam em uma situação de aversão que não conseguem suportar.
Por isso é que a Psicologia Consciencial tem um grande objetivo de esclarecer sobre as questões espirituais ligadas ao sentido da vida, de modo a auxiliar o ser humano a se libertar dos conflitos conscienciais.
Agora, aprofundemos no caso de Roberta relatado no artigo anterior, analisando alguns conceitos fundamentais para que o sentido existencial seja produzido, emanado e cumprido, gerando a nossa felicidade.
Traumas interexistenciais: são traumas vividos em experiências em outras existências nas quais aconteceram determinados fatos que ficam marcados em nosso psiquismo em um nível subconsciente, que se manifestam sob a forma de subpersonalidades, que, muitas vezes, tomam conta da personalidade atual, não permitindo o processo da individuação, que é realizado por meio da identificação da personalidade atual com o Ser Essencial.
Dilema consciencial: todas as vezes em que nós nos defrontarmos com um trauma interexistencial, que se manifesta por uma tendência de uma subpersonalidade, seremos convidados a tomar uma decisão consciencial de utilizar a personalidade atual como uma enfermeira da subpersonalidade doente do passado, em sintonia com o Ser Essencial, que funcionará como um médico cônscio das suas responsabilidades de ser fiel ao código moral de leis que traz ínsito em si, desenvolvendo as virtudes necessárias para curar as tendências da subpersonalidade ou permanecer vitalizando aquela experiência, repetindo o processo ligado à subpersonalidade vivido no passado, fazendo com que a personalidade atual se torne tão doente quanto a subpersonalidade do passado.
Agora, analisemos o caso de Roberta com base nesses dois conceitos. Inicialmente, Roberta assumiu, de uma forma subconsciente, pois não se lembrava dos fatos, a personalidade anterior, na qual foi seduzida e depois se tornou prostituta. Ao entrar em contato com o antigo sedutor, sentiu essa subpersonalidade aflorar em seu psiquismo a ponto de quase anular a personalidade atual, de modo que não se sentia mãe do segundo filho, e sim alguém sendo usada sexualmente por ele, como sentiu na primeira vez que o amamentou no seio. Todo ódio que estava momentaneamente amortecido em nível subconsciente assomou ao consciente, mesmo que os fatos ainda permanecessem subconscientes.
Em situações assim, há uma tendência da subpersonalidade assumir o controle da personalidade atual. Caso a pessoa não faça nenhum esforço para mudar isso, a personalidade atual adoece devido aos sentimentos egoicos que provêm da subpersonalidade do passado. Foi o que aconteceu com Roberta durante a gestação e nos primeiros meses de vida do filho. Tomou-se de ódio pelo segundo filho e entrou em um conflito consciencial muito grande. Esse ódio não provém da personalidade atual em que ela tem o papel de mãe dele, mas da jovem seduzida e abandonada que ainda existe nela, personalidade na qual aconteceu o trauma que retorna na existência atual com toda a força em forma da subpersonalidade usada e abandonada para se tornar prostituta. Há um processo de conectar a personalidade com os sentimentos egoicos vividos intensamente no passado. Dessa forma, a personalidade atual adoece sob os reflexos da subpersonalidade que está presente porque esse trauma interexistencial ainda não foi ressignificado.
Roberta poderia ter feito várias coisas: cometido um crime assassinando ou abandonando o próprio filho; poderia ter reprimido o ódio desenvolvendo as máscaras do ego e se tornado uma “boa” mãe para ele; ou aquilo que fez, buscou ajuda para saber o que estava acontecendo, de modo a curar-se.
A cura acontecerá por meio da identificação da personalidade atual com o Ser Essencial ao invés de conectá-la com o ego, como estava acontecendo. É fundamental que Roberta comece a refletir sobre a prática das virtudes do amor e do perdão tanto a si mesma quanto pelo filho, de modo a sintonizar com as leis do amor e do perdão. Agindo assim, o Ser Essencial se torna um médico que utilizará a personalidade atual como enfermeira para curar a subpersonalidade do passado.
O trauma interexistencial é ressignificado por meio da técnica da regressão de memória na qual é realizada a catarse da carga emocional dos fatos vividos no passado, bem como pela conscientização desses fatos que estavam em nível subconsciente. Os sentimentos egoicos evidentes são aflorados e ressignificados por meio de outra técnica associada à regressão chamada ressignificação essencial. Em um caso como o de Roberta, de ódio entre mãe e filho, a recordação do planejamento existencial com as orientações recebidas sobre o perdão mútuo é fundamental.
Para se obter sucesso no trabalho terapêutico, é importante que a pessoa utilize de sua vontade de autotransformação, caso contrário a técnica não produzirá efeito. Nenhuma técnica terapêutica transforma uma pessoa que não se esforce para possibilitar a sua autotransformação.

1 Em português também se usa a palavra sânscrita karma ou a sua versão aportuguesada carma com o mesmo sentido do texto do Dr. Whitton.  
2 Ibidem, p. 90 – 93, 98

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